A história de Portugal e do território é muito antiga e por isso a sua gastronomia, cultura, festas e tradições são transmitidos de geração em geração. Assim, cada celebração tenta contar uma história que une todo o povo português em torno do sua história e hábitos. Muitas destas tradições são, hoje, reconhecidas internacionalmente, atraindo o interesse de todo o mundo.
As tradições religiosas são muito importantes para um povo maioritariamente cristão. O Natal e a Páscoa são as mais importantes, mas as peregrinações a Fátima e um sem numero de festas populares em honra dos padroeiros de cada terra dão luz, cor e animação principalmente nos meses de verão.
A gastronomia portuguesa é também riquíssima e variada. O bacalhau é servido em todo o território de diversas maneiras. A sul e litoral o peixe, no interior alentejano, o pão, azeite e vinho, nas beiras, as carnes, o vinho do douro ou os verdes do Minho.
A doçaria conventual está também presente, um pouco por todo o território, o Dom Rodrigo, os Pasteis de Belém, os Olhos Moles ou os Pasteis de Tentúgal são apreciados em todo o mundo.
Mas há mais, muito mais, na música o cante alentejano, o fado ou o folclore. A olaria, os azulejos, os bordados e tapeçaria. E as festas e romarias que fazem a alegria do povo, os Santos Populares, a Festas das Flores em Campo Maior, dos Tabuleiros em Tomar, a Senhora dos Remédios em Lamego ou da Senhora da Agonia em Viana do Castelo.
Vamos percorrer Portugal e conhecer a sua história e costumes neste Roteiro Festas e Tradições Populares.
Locais e conteúdos - Guia e Roteiro Festas e Tradições Populares:
Carnaval ou Entrudo são os três dias de festas que precedem a quarta-feira de cinzas. Carnaval é uma palavra que tem origem no latim "carna vale" e que significa dizer "adeus à carne".
Nas suas origens, o Carnaval está relacionado com determinados rituais de fecundidade da terra, que eram organizados na passagem de ano e no início da primavera.
Desde a antiguidade, no norte de Portugal, povos celtas marcavam o fim do inverno com festas de fertilidade. Com o passar dos séculos, as tradições pagãs dos romanos em Portugal, de folia, pregar partidas, banquetear e dançar, tornaram-se tão populares que passaram a fazer parte de um costume anual.
A bênção da igreja católica e a sua introdução no calendário religioso veio trazer esta tradição para os meios mais urbanos e aristocratas, mudando um pouco o seu conceito inicial.
Os bailes de máscaras foram criados na França, por volta do século XVII, mas rapidamente ficaram populares noutros países europeus.
Durante o Renascimento, as festas carnavalescas atingiram uma grande popularidade, principalmente na Itália, em Roma e Veneza, onde continua a acontecer um dos mais importantes carnavais do mundo.
De referir, ainda, que o Carnaval é celebrado 40 dias antes da Páscoa, desde o século XI e que este período é chamado pela Igreja Católica de Quaresma, que preserva quarenta dias de jejum, com abstinência de carne.
A terça-feira de carnaval é chamada popularmente de “Terça-feira gorda” ou "Mardi Gras", como dizem os franceses.
A quarta-feira de cinzas é o primeiro dia Quaresma, no calendário católico e as cinzas que se recebem neste dia são um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a transitória e frágil vida humana.
A quarta-feira de cinzas ocorre quarenta dias antes da Páscoa, sem contar os domingos, ou quarenta e seis dias, contando os domingos. O seu lugar no calendário varia, de ano para ano, dependendo da data da Páscoa. A data pode variar do começo de fevereiro até a segunda semana de março.
Um dos mais populares carnavais de Portugal e um dos mais tradicionais. Com mais de 100 anos d história, aqui reina a brincadeira e a sátira, com figuras típicas como as matrafonas (homens vestidos de mulher), os cabeçudos ou os Zé Pereiras.
O desfile dos corsos e carros alegóricos são o momento alto da celebração, mas a cidade vive dias de animação um pouco por todo o lado. Os populares juntam-se aos grupos que desfilam no centro da cidade e fazem uma festa que não pára durante 6 dias.
O ancestral carnaval da aldeia de Podence, Macedo de Cavaleiros é um dos eventos tradicionais mais importantes do norte de Portugal. A forte participação da comunidade que conseguiu preservar esta tradição durante séculos e a importância que mantém atualmente nos eventos culturais da região foram determinantes para que a UNESCO classificasse o Carnaval de Podence como Património Imaterial da Humanidade.
Todos os anos, durante o Carnaval, as figuras “diabólicas” dos Caretos - rapazes mascarados com trajes de franjas coloridas, caras de nariz pontiagudo feitas de lata ou couro e chocalhos à cintura - percorrem as ruas de Podence fazendo barulho e metendo-se com as pessoas que passam, sobretudo com as raparigas.
Na origem, estavam associados à figura do “diabo à solta” e representavam os excessos, a euforia e a alegria permitidos nesta altura do ano, depois dos meses frios de inverno, celebrando também a fertilidade da primavera que se aproximava.
Tradicionalmente, no Domingo Gordo e na 3ª Feira de Carnaval, os rapazes da aldeia encarnam as misteriosas personagens e cheios de energia, que acreditam ser transmitida pela máscara, correm pela aldeia aos saltos e aos gritos, perturbando a tranquilidade. Um dos principais motivos das correrias é encontrar raparigas para dançar e para as "chocalhar". E assim se vão divertindo, protegidos pelo anonimato. São seguidos por rapazes mais novos que imitam os caretos mais velhos aprender e assegurar a continuidade da tradição, a quem chamam "facanitos".
Entre os momentos mais importantes do Carnaval de Podence, destacam-se os casamentos a fingir, no Domingo Gordo, um momento de humor e sem hipótese de reclamação por parte dos escolhidos e, na 3ª feira de Carnaval, o desfile e a cerimónia da Queima do Entrudo, que anuncia o final da festa.
Em 1985, os Caretos de Podence organizaram-se e transformaram o grupo numa associação cultural, com o objetivo principal de preservar este evento tradicional. Como símbolo da cultura do nordeste transmontano, estes mascarados têm sido convidados a participar em vários acontecimentos culturais e recreativos. A história do grupo e desta tradição pode ser vista na “Casa do Careto”, um espaço museológico existente em aldeia.
As raízes carnavalescas da pequena Lazarim, aldeia com apenas 500 habitantes próxima de Lamego, são ancestrais e imersas em rituais pagãos. Talvez por isso o Estado Novo as tenha combatido, sem sucesso.
Demónios, figuras grotescas com fisionomias animalescas ou bruxas, preferencialmente com cornos bicudos e despidas de pinturas, são as máscaras típicas do Entrudo de Lazarim. Máscaras de madeira de amieiro (uma árvore ripícola que nasce nas margens do rio Varosa) esculpidas por artesãos da freguesia. Não há nenhuma máscara igual à outra e não há ‘rendilhado’ que não tenha direito de autor reconhecido.
A celebração vive em torno da guerra entre sexos. As raparigas solteiras (comadres ou senhorinhas) apresentam o “testamento da burra”, uma crítica mordaz aos rapazes da aldeia. O texto brejeiro e picante não poupa críticas, como se as verdades tivessem sidos todas guardadas, pacientemente, para esta ocasião.
A resposta é dada pelo “testamento do burro”, dos compadres (os caretos). O moço aperaltado, de patilhas bem marcadas e chapéu domingueiro, responde à altura com a sátira e caricatura dirigida ao sexo feminino. Estes testamentos burlescos e implacáveis não só arrancam gargalhadas aos visitantes, como fazem corar as pedras da calçada…
Mais tarde, um compadre e uma comadre de palha são queimados num gesto simbólico de purificação, antes do concurso de máscaras premiar os artesãos. Tudo termina em alegre convívio, ao final da tarde, quando se serve feijoada e caldo de farinha com enchidos.
O Entrudo Tradicional das Aldeias do Xisto de Góis ocorre todos os anos no carnaval, altura que ainda se sente o frio invernio entranhado no corpo.
O seu festejo, de forma simples como os costumes das tradições portuguesas, assentava na “Corrida do Entrudo”. Porém, para participar na “corrida” era necessário trajar a rigor.
Nas Aldeias do Xisto de Góis, o engenho cultural instituído pela falta de base económica para adquirir materiais, embutia nos jovens uma imaginação frutífera. Assim, estes preparavam várias formas para encobrir a face (não fosse alguém reconhecê-los por azar) com qualquer coisa que houvesse por casa: serapilheiras, fronhas velhas, trapos, um “peneiro das abelhas” ou, para os mais, criativos e engenhosos uma máscara feita a partir de cortiça.
Depois os foliões partiam para a “corrida” às aldeias, a melhor parte claro, e brincava-se, e quase tudo era permitido, sendo um dos pontos altos o declamar de ”quadras jocosas” sobre os habitantes das aldeias corridas, criadas a partir de pequenas estórias que ocorriam durante o ano.
O Carnaval da Nazaré define-se como sendo único, tradicional e genuíno, sendo preparado e feito “da gente para a gente”. É sem dúvida a maior festa da vila piscatória da Nazaré, que atrai milhares de turistas, bem como habitantes da região.
Desde os trajes tradicionais até às cegadas, o Carnaval da Nazaré é um evento expectado e aguardado ansiosamente pelos Nazarenos, que o vivem de uma forma profunda e apaixonante.
Todos os anos existe um “mote” que define o Carnaval Nazareno. Por norma, é uma expressão típica nazarena e que acaba por marcar o ano carnavalesco. Já os Reis de Carnaval são pessoas da terra, que de uma forma ou outra contribuem ou contribuíram para a festa, sendo o reinado uma homenagem ao “amor ao Carnaval”.
As festas populares são uma parte fundamental do património cultural de Portugal. Entre as mais famosas estão as festas dos santos populares, dedicadas a Santo António (13 de Junho), São João (24 de Junho) e São Pedro (29 de Junho), que enchem as ruas de cidades e vilas com alegria, cores e diversão.
A origem das celebrações dos santos populares remonta a uma mistura de tradições pagãs e cristãs que se desenvolveram ao longo dos séculos.
Antes da chegada do cristianismo, as populações do norte da Europa celebravam o solstício de verão, o dia mais longo do ano, com festas que incluíam fogueiras, danças e rituais para celebrar a fertilidade e a abundância das colheitas. Estas celebrações estavam associadas à adoração de deuses pagãos e eram momentos de grande alegria e renovação.
Com a disseminação do cristianismo, a Igreja Católica procurou cristianizar as festividades pagãs, associando-as à celebração de santos importantes. Tal ajudou a integrar as práticas pagãs na nova fé, tornando-as mais aceitáveis para os convertidos. Assim, as festas do solstício de verão foram associadas aos santos que a Igreja comemorava em junho.
Algumas das tradições mais relevantes desta quadra são:
Marchas Populares. Desfiles de marchas coreografadas com trajes típicos, representando os diferentes bairros da cidade de Lisboa;
Casamentos de Santo António. Cerimónias coletivas de casamentos patrocinados pela Câmara Municipal de Lisboa;
Manjericos e quadras populares. Durante as festas, é comum oferecer pequenos vasos de manjerico, com bandeirinhas coloridas que contêm quadras populares (poemas curtos e rimados);
Balões de São João. Balões de papel iluminados que são lançados ao céu durante a noite;
Martelinhos e alhos-porros. Tradição de bater nas cabeças das pessoas com pequenos martelos de plástico ou alhos-porros, como forma de cumprimento amigável;
Saltos sobre fogueiras: As pessoas saltam sobre fogueiras para simbolizar a purificação e a renovação;
Cascatas. As cascatas são pequenas representações em miniatura de cenas típicas da vida rural, geralmente com figuras de barro, que incluem santos e outros personagens tradicionais;
Procissões Marítimas. Barcos decorados participam em procissões no mar em honra ao padroeiro dos pescadores;
Fogueiras de São Pedro. As pessoas saltam sobre fogueiras, seguindo a tradição comum nesta quadra;
Arraiais. Festas de rua com música, dança e comidas típicas, como sardinhas assadas e broa de milho.
Um cenário hollywoodesco que espanta quem nunca viu. Poucas festas em Portugal conseguem, de modo tão afirmativo e unânime, associar a cultura popular aos desafios da contemporaneidade. A "Sexta 13 – Noite das Bruxas" de Montalegre constitui, provavelmente, o mais disseminado exemplo da reinvenção das tradições populares de Trás-os-Montes. A sua essência reside nos serões tradicionais de Barroso, espaço onde o fiadeiro de contos e estórias do arco-da-velha preenchiam as longas noites de invernia. Contos e lendas, magia e superstição, trocadilhos e lengalengas eram partilhados com os mais novos, resultando num processo de transmissão da sabedoria e cultura popular de Barroso, hoje em processo de recuperação.
Parte desta tradição oral, sobretudo ligada à superstição e ao fantástico, foi recuperada pelo Padre Fontes no início da década de 1980, por intermédio do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes e, posteriormente, transposta para os restaurantes e espaços públicos de Montalegre dando origem à "Sexta 13 – Noite das Bruxas". A longevidade da "Sexta 13", associada à sua permanente reinvenção, preconiza a natureza agregadora e fraterna das grandes celebrações transmontanas. Elementos estruturantes do evento são a superstição e o misticismo, que tornam a festa um fenómeno de exaltação social e contexto de celebração pública mas, principalmente, um curioso sentimento de afrontação a todas as formas dogmáticas de olhar a vida, moldam a sua matriz identitária.
Assente na superstição ligada, por um lado ao número 13 onde, como refere o padre Fontes «os dias 13 são de azar, assim como o número 13. Estando 13 pessoas à mesa, uma delas morre. É preciso pôr, nem que seja uma criança, ou sair um dos comensais» e, por outro, à sexta-feira em que «às terças e sextas nem urdas a teia, nem cases a filha», o evento eleva a cultura galaico-barrosã ao patamar de grande festa popular.
A relação com a Galiza é umbilical, plasmada na récita do esconjuro, poema/feitiço com raízes do outro lado da "fronteira viva", onde o misticismo e a superstição desempenham um papel semelhante no imaginário coletivo. O magnífico espetáculo de teatro, que conquista por uma noite o Castelo de Montalegre e o centro histórico de Montalegre, é realizado tendo por base contos e lendas ancestrais de Barroso e da Galiza e protagonizado por companhias teatrais de ambos os lados da raia. A economia local e regional é fortemente envolvida. A hotelaria da região – desde Braga a Chaves – esgota para o evento. Na restauração, a gastronomia tradicional de Barroso revela-se aos visitantes: o fumeiro de Montalegre, o "Cozido à Barrosã" e a cozinha temática são um dos pontos altos da "Sexta 13 – Noite das Bruxas".
No local onde se encontra o Santuário da Nossa Senhora dos Remédios, o monte de Santo Estêvão, existiu outrora uma capela em honra deste Santo, construída em 1361. Tratava-se de um templo pequeno e modesto, mandado edificar pelo bispo da diocese, D. Durão. Em 1551, foi nomeado bispo de Lamego D. Manuel de Noronha que, para além de muitas obras existentes na cidade de Lamego, mandou erigir, no ano de 1568, a primeira capela em honra da Nossa Senhora dos Remédios, exatamente no monte de Santo Estêvão, e que hoje é designado por Pátio dos Reis.
Mais tarde, em 1750, a Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, na época liderada pelo Cónego José Pinto Teixeira, devido à degradação da capela seiscentista, mandou-a demolir e construir um magnificente Santuário dotado de um amplo e harmonioso espaço para atrair mais peregrinos e capaz de acolher mais crentes ligando-o à cidade. Esta obra foi concluída em 1761. Neste mesmo ano, iniciaram-se no novo espaço, os ofícios religiosos, mas somente em 1778 é que este Santuário foi inaugurado. Na época, o grandioso dia, dedicado à Padroeira Nossa Senhora dos Remédios, era assinalado a 5 de setembro. As festas foram crescendo ao longo dos tempos até se tornarem uma das mais grandiosas do país, na qual os rituais religiosos e profanos se misturam numa harmonia perfeita. É oferecido um programa diversificado englobando exposições, concertos, desfiles, procissões, feiras, eventos culturais e desportivos de forma a atrair muitos veraneantes e foliões. Assim, durante estes dias de diversão é possível admirar a Marcha Luminosa, no dia 6 de setembro à noite, e a Batalha das Flores, no dia seguinte à tarde, que percorrem as principais ruas da cidade engalanadas de alegria e cor.
A Romaria de Lamego, dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, é uma das maiores de Portugal, sendo o momento mais alto desta celebração a grandiosa Procissão de Triunfo, realizada a 8 de setembro, na qual os andores ostentam imagens sagradas puxadas por juntas de bois, como manda a tradição. Nesta altura, as ruas ficam ricamente ornamentadas, ganhando uma nova dinâmica, onde a componente religiosa adquire toda a sua plenitude.
As festas culminam com uma fenomenal sessão de fogo pelos quatro cantos da cidade.
Nota: De referir que este guia e roteiro Festas e Tradições Populares (como os outros) pretende ser apenas um guideline e não para ser obrigatoriamente cumprido à risca. Cada visitante pode acrescentar ou retirar locais, fazer em mais ou menos dias. Numa escapadinha de um ou vários dias. E, claro, estamos disponíveis para ouvir conselhos e dicas para melhorarmos os nossos roteiros!